HENRIQUE PIAI
“Na família que reinar o amor, nunca faltará nada”.
Capivari, Ano
da Graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 1951, lindo sábado de sol, primeiro
ano em que, para poupar energia no Brasil, o governo decreta horário novo. Seria 16h no horário antigo, mas
o relógio marcava 17h.
Toda de
branco, pensativa por dentro, mas sorrindo por fora e segurando um buquê de
flor, entra na Matriz de São João Batista a bela jovem Júlia Juventina Juliani
Piai, ao som da marcha nupcial. “Como ela está bonita”, diziam as boas línguas.
A cada passo da noiva em sua direção, o noivo
dizia “Deus é bom”, repetindo com sentimento uma vez atrás da outra o noivo
todo emocionado de olhos bem abertos e coração pulsando mais forte. Cercado de
cunhados clérigos por todos os lados, Henrique Piai olha para o celebrante da
cerimônia, irmão da noiva, padre claretiano Miguel Marini Juliani. Ali estavam
também diversos seminaristas prestes a serem ordenados, um deles foi o outro
irmão da noiva, que morreu monsenhor em Piracicaba, o grande Monsenhor Luiz
Gonzaga Juliani, que foi ordenado padre em 1952, importante Chanceler do
Bispado por várias décadas. E também monsenhor Jorge Simão Miguel, o melhor
amigo de monsenhor Luiz durante os estudos. Por décadas também Monsenhor Jorge
foi o Vigário Geral da Diocese.
Imaginamos
ter sido o casamento do ano em Capivari pela movimento na comunidade católica.
União de um jovem firme, direito, trabalhador da zona rural com uma jovem da
cidade, virtuosa, temente a Deus e apaixonada. Iria largar o conforto das
melhorias urbanas para enfrentar o desconhecido na zona rural. Tornou-se dona
de casa num lugar em que a água tinha que ser tirada do poço e a iluminação era
de lamparina à querosene com medidas restritivas para não gastar muita matéria
prima. Eles venceram!
A benção foi
tão grande que dura eternamente, o dilema de amar e ser amado é o maior
mistério humano. Nem a morte dele separou fisicamente os dois. Mas o amor
vivido gerou tal intensidade como continuará no céu como são as histórias de todos
os amores que se alicerçam em Deus. Após cumprirem a função de noivos com os
convidados, no fim do fim, a lua de mel começou com um terço, o primeiro terço
da família Juliani Piai. Casamento de almas, na fé e na esperança. Esperança que,
em muitas circunstâncias, foi o que sustentou a vida a dois até chegar onde
estão hoje.
Uma vida de
testemunho da fé. Nos seus últimos anos de vida Henrique Piai viveu emoções
espirituais ainda mais fortes. Foi um dos melhores companheiros do padre Eusébio
em sua subida para o calvário. Seu Henrique chorou quando, na condição de
Ministro da Eucaristia, cumpriu a função
de dar Comunhão para o vigário em sua primeira internação no então Hospital dos
Fornecedores de Cana, hoje Unimed. Sua inabalável fé o distinguia da multidão.
Lembro-me quando me disse: “Feliz dia de Cristo Rei”. Ele ia na missa todos os
dias e se compenetrava no tema das celebrações. Dava muita importância para o
calendário litúrgico e entendia que a festa de Cristo Rei do Universo é o topo
da fé católica, receber Cristo como Senhor da própria vida.
Após a festa
de Cristo Rei seguem os domingos do advento, da espera de Jesus, da preparação pessoal
e comunitária para o Natal.
“A gente
para ganhar o céu tem que entrar pela porta estreita”, dizia na família nos
momentos de provação com sua amada Júlia. Se recordarmos a entrada triunfal de
Jesus em Jerusalém, entre cantos e danças (Cf. Lc 19,28-40), ficamos admirados
pelo modo com o qual, no final, será apresentado no "trono da Cruz". A
celebração acontece no último domingo do Tempo Comum, antes do início do
Advento, sendo uma data variável, que, em 2023 acontece neste domingo 26 de
novembro.
Com
dedicação, seu Henrique e dona Júlia criaram quatro filhos: Tarcísio, José
Maria, Maria Júlia e Paulo Henrique. Em sua descendência, três netas e os dois
bisnetos italianíssimos, Valentina e Lorenzo. Juntos e unidos conquistaram o
sitio Casa Nova e fizeram um patrimônio abençoado. Eles guardam as mesmas imagens
de Nossa Senhora Aparecida e Santo Antônio
desde o altar em 1951, vivem a vida com a sabedoria da fé e da esperança de quem
joga a semente no chão e reza para chover só o suficiente.
Ele já na
eternidade e ela com bastante lucidez e força física, marcha para o centenário
do nascimento. Dona Júlia diz: “A gente sente muito, mas fala pouco; saudade
sim, tristeza não”.
Seu Henrique
dizia: “Na família que reinar o amor, nunca faltará nada”.
0 Comentários