"Jamais considere seus estudos como uma obrigação, mas como uma oportunidade invejável para aprender a conhecer a influência libertadora da beleza do reino do espírito, para seu próprio prazer pessoal e para proveito da comunidade à qual seu futuro trabalho pertencer". (Albert Einstein)
 


 

Um diferente do outro, temos dois grandes oradores na Antiguidade: Cícero, admirado em toda Roma por sua eloquência, e Demóstenes, repetindo as mesmas proezas na Grécia. Para Cícero foi mais fácil, pois nasceu com o dom de falar em público. Mas, para Demóstenes (384-322 a.C.), encantar a multidão foi um exercício de força de vontade e de persistência.  Demostenes é uma prova do extraordinário poder do esforço. Foi graças ao seu treinamento meticuloso, rígido, persistente que Demóstenes se elevou à imortalidade como um símbolo da força avassaladora das palavras. Com o caminho deixado por ele qualquer pessoa de mediana inteligência consegue fazer igual ou melhor que os grandes oradores.

Demóstenes, natural de Atenas, era de uma família rica. Seu pai morreu quando ele tinha 8 anos. A herança opulenta foi dilapidada por seus tutores, parte por má fé, parte por inépcia. Garoto ainda, Demóstenes assistiu a um julgamento no qual um orador chamado Calístrato teve um desempenho brilhante e, com sua verve, mudou um veredicto que parecia selado. (Orador, lá para trás, era uma espécie de advogado de hoje.)

Pronto. Demóstenes acabara de saber o que queria ser quando crescesse. Esse episódio foi assim narrado pelo historiador e filósofo grego Plutarco: “Demóstenes invejou a glória de Calisto ao ver a multidão escoltá-lo e felicitá-lo, mas ficou ainda mais impressionado com o poder da palavra, que parecia capaz de levar tudo como ele queria.”

Ele entrou numa escola de oratória. Assim que pôde, processou seus tutores. Ganhou a causa. Mas estava ainda longe de ser notável.

 

TREINAR, TREINAR E TREINAR

Um dia, desanimado, desabafou com um amigo ator. Gente bem menos preparada que ele provocava melhor impressão nas pessoas. O amigo pediu-lhe que recitasse um trecho de Eurípides ou de Sófocles, dois colossos do teatro grego. Demóstenes recitou. Em seguida, o amigou leu o mesmo trecho, com o tom dramático de um ator. Era a mesma coisa, e ao mesmo tempo era tudo inteiramente diferente.

 

Demóstenes montou então uma sala subterrânea na qual se enfiava todo dia por demoradas horas para treinar, treinar e ainda treinar. Chegava a raspar um dos lados da cabeça para não poder sair de casa e assim praticar sem parar.

Para aperfeiçoar a dicção, Demóstenes punha pequenas pedras na boca enquanto falava. Fazia também parte de seu treinamento declamar em plena corrida. Olhava-se demoradamente num grande espelho para ver se sua expressão causava impacto.

“Vem daí a reputação de não ter sido bem dotado pela natureza e só haver adquirido habilidade e força oratória pelo trabalho incansável”, escreveu Plutarco. Ao contrário de outros grandes oradores atenienses, Demóstenes não gostava de improvisar. Por isso os inimigos o chamavam de embusteiro.

 

Quando a Grécia foi ameaçada por Felipe, rei da Macedônia, a voz de Demóstenes ergueu-se tonitruante em defesa de seu país. Mais que o exército grego, Felipe, pai de Alexandre, o Grande, temeu e reverenciou a voz de Demóstenes.

 

Demóstenes retardou, mas não impediu a queda dos gregos. Fugiu de Atenas para não ser morto, mas estava perdido. Para não ser capturado pelos inimigos que o caçavam, matou-se com veneno. Mais tarde, os atenienses construíram uma estátua para ele na qual gravaram uma sentença célebre: “Se tivesses tido força igual à tua vontade, Demóstenes, o guerreiro macedônico jamais dominaria a Grécia”.

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