Mínimorum sobre mim, Freud e a Psicanálise. 

Deparei-me com a minha enorme pequenez para conseguir escrever algo sobre este grande homem. Pesquisei e publico nesse post essa matéria básica mas salutar, que apresento sempre aos alunos do Curso de  Constelação Familiar da Faculdade de Ciências Teológicas e Psicanalíticas do Rio de Janeiro FACITEPERJ e do Instituto Carioca de Ciências Holísticas (ICCH) no Instituto Águia de Araguaína. 

Escolho compartilar aqui também e com total facilidade segue um grande agradecimento a todos que lerem tudo e puderem contribuir para melhorar esse conteúdo.

Poucas pessoas na história da humanidade chegam a ser tão intrigantes como Freud. Seria por causa da Psicanálise? Talvez não... Provável é que seja por conta da enorme contribuição que ele deixou ao solidarizar-se com aqueles que a sociedade rejeitava por fugirem do "normal" da época. O currículo dele está em toda parte, de modo que dispensa maiores adentramentos.

Ernest Jones, meu biógrafo de Freud preferido, conta sua história e nos acompanha na trajetória da construção do analista Freud.

Por fim, verdade é que Sigmund Freud nasceu às 18:30 horas do dia 06 de maio de 1856, em Freiberg, na Morávia, e morreu em 23 de setembro de 1939, em Londres. Com um pai que viveu até os 81 anos e uma mãe até os 95, Freud talvez estaria destinado a uma longa vida, caso não tivesse sido acometido pelo câncer.

Escrevo isso tudo no Tocantins, enquanto o corpo de Fernando Vannucci é velado em São Paulo. Dói sentir dor, um amigo a menos, 2 projetos de trabalho interrompidos, 2 possibilidades a menos que serão sepultadas com ele no chão. Que é a psicanálise diante disso?


 



1. O que é a psicanálise?

 

Embora não haja um consenso sobre a gênese exata do conceito dentro do

contexto histórico, coube a Sigmund Freud a titulação de fundador da Psicanálise na

passagem do século XIX para o século XX. Seus feitos, conceitos e ideias estão

presentes nas discussões do campo psicanalítico até hoje, o que trouxe profunda

influência para o desenvolvimento de inúmeras linhas de estudos desde sua

concepção.

 

Conceitualmente o termo psicanálise é utilizado para se referir a um constructo

teórico baseado nos preceitos da hermenêutica (campo de estudo, que tem por

referência, a explicação que compreende a interpretação de sentidos implícitos, ou

seja, possui um caráter investigativo que busca a interpretação do que está além do

objeto).

 

Nesse sentido, a psicanálise pode ser considerada um campo teórico e um

método de investigação e interpretação, que culminam em uma prática clínica dotada de técnicas específicas.

 

Enquanto teoria, pode ser caracterizada por um conjunto de conhecimentos

sistematizados sobre a estrutura e o funcionamento da vida psíquica, bem como sua repercussão na vida do sujeito. Como método investigativo, busca a interpretação de conteúdos que são ocultos e/ou inacessíveis às manifestações e ações do indivíduo em sua relação com o meio.

 

Segundo Laplanche e Pontalis (1996), essa disciplina fundada por Freud pode ser dividida em três níveis:

 

● a) Um método de investigação que consiste essencialmente em evidenciar o significado inconsciente das palavras, ações, das produções imaginárias (sonhos, fantasias, delírios) de um sujeito. Este método baseia-se principalmente nas associações livres do sujeito, que são a garantia da

validade da interpretação. A interpretação psicanalítica pode estender-se a

produções humanas para as quais não se dispõe de associações livres.

 

● b) Um método psicoterápico baseado nesta investigação e o especificado pela interpretação controlada da resistência, da transferência e do desejo. O emprego da psicanálise como sinônimo de tratamento psicanalítico está ligado a este sentido; exemplo: começar uma psicanálise (ou uma análise).

 

● c) Um conjunto de teorias psicanalíticas e psicopatológicas em que são

sistematizados os dados introduzidos pelo método psicanalítico de investigação e de tratamento.

À prática profissional, portanto, coube a alcunha de análise​, ou seja, uma forma de tratamento que se utiliza de técnicas investigativas específicas para o tratamento daqueles que buscam seu autoconhecimento e/ou resoluções e entendimentos das perturbações que assolam a psique humana.

 

Ou, nas palavras de Freud (1922), “​chamamos de psicanálise ao trabalho

pelo qual levamos à consciência do doente o psíquico recalcado nele”. ​

 

No artigo "QUE TIPO DE CIÊNCIA É, AFINAL, A PSICANÁLISE", o autor explica que Freud teoriza o campo psicanalítico em dois níveis, explicando que, em um deles, há uma ideia de generalidade. Descreve-se o inconsciente e suas implicações dentro do aparelho psíquico: os conflitos e angústias provenientes das pulsões e seus destinos na sua relação com a satisfação (ou não) do desejo.

 

INDICAÇÃO DE LEITURA​:

1.1 - Que tipo de ciência é, afinal, a Psicanálise? (MEZAN, 2001) ​[40 páginas]

 

 

2. A gênese da psicanálise e o percurso inicial de Sigmund Freud

 

Toda a conceituação de base da psicanálise como a conhecemos se remete,

indiscutivelmente, ao final do século XIX, por meio de Freud e seus tutores e colaboradores.

Portanto, é necessário que se remonte a trajetória do fundador da psicanálise, considerando os personagens históricos que o ajudou no desenvolvimento das ideias iniciais de sua ciência.

 

Médico de formação pela Universidade de Viena, em 1881, Freud se especializa em psiquiatria, mostrando-se um renomado neurologista. E, em meio a sua clínica médica, passa a se deparar com pacientes acometidos por “problemas nervosos”, o que lhe suscitava certos questionamentos, visto a “limitação” do tratamento convencional oriundo da medicina.

 

Com isso, entre 1885 e 1886, Freud vai à Paris para realizar um estágio com o neurologista francês Jean-Martin Charcot, que parecia demonstrar sucesso no tratamento de sintomas de doenças mentais por meio do uso da hipnose.

Para Charcot esses pacientes, ditos histéricos, eram acometidos por distúrbios mentais causados por anormalidade no sistema nervoso, uma ideia que influenciou Freud a pensar novas possibilidades de tratamento.

 

De volta à Viena, Freud passa a tratar seus pacientes com sintomas de

distúrbios nervosos através da sugestão hipnótica​. Nessa técnica, o médico induz uma alteração no estado de consciência do paciente e, então, realiza uma investigação entre as conexões e condutas do paciente que poderiam estabelecer qualquer relação com o sintoma apresentado.

Nesse estado, percebe-se que, por meio de sugestão do médico, é possível

provocar o aparecimento e o desaparecimento desse e outros sintomas físicos.

Contudo, Freud se vê ainda imaturo em sua técnica e, então, busca entre 1893 e 1896, aliar-se ao respeitado médico Josef Breuer, que descobrira ser possível reduzir os sintomas da doença mental apenas pedindo para que os pacientes descrevessem suas fantasias e alucinações.

Com a utilização das técnicas de hipnose era possível acessar mais facilmente as lembranças traumáticas e, ao dar voz a esses pensamentos, as memórias ocultas eram trazidas ao nível consciente, o que possibilitava o desaparecimento do sintoma

(COLLIN et al., 2012).

 

Emblematicamente essa ideias foram possíveis de serem desenvolvidas através do tratamento de uma paciente conhecida como Anna O., a primeira experiência de sucesso por esse sistema de tratamento psicoterápico.

 

Desse modo, Freud e Breuer passam a trabalhar juntos, desenvolvendo e

popularizando uma técnica de tratamento que possibilitava a liberação de afetos e emoções ligadas aos acontecimentos traumáticos do passado por meio da rememoração das cenas vivenciadas​, o que culminava no desaparecimento do sintoma.

 

A essa técnica de revivenciar cenas traumáticas do passado deu-se o nome de método catártico​. Toda essa experiência possibilitou a publicação conjunta da obra Estudos sobre a histeria (1893-1895).

 

Em 1896, Freud emprega, pela primeira vez, o termo Psicanálise​, com o intuito de estudar os componentes que formam a psique. Nesse sentido, fragmentar o discurso/pensamento do paciente para poder captar os conteúdos latentes e, a partir daí, destrinchar melhor os significados e implicações presentes na fala do paciente.

 

À medida que a técnica se avançava, alguns pontos de discordância apareciam entre Freud e Breuer, sobretudo na ênfase que Freud estabelecia entre as memórias do paciente e as origens e conteúdos sexuais da infância.

Desse modo, em 1897 Breuer rompe com Freud, que segue desenvolvendo as ideias e técnicas da psicanálise, abandonando a hipnose e utilizando a técnica de concentração​, na qual a rememoração era realizada por meio da conversação normal, dando voz ao paciente de forma não direcionada (as escolhas aparentemente casuais dos temas livremente trazidos pelo paciente poderiam encaminhar para revelações sobre seu inconsciente). Esta forma seria a precursora do que Freud, depois, denominaria associação livre.

 

“Quando, em nossa primeira entrevista, eu perguntava a meus pacientes se

recordavam do que tinha originalmente ocasionado o sintoma em questão, em alguns casos eles diziam não saber nada a esse respeito, enquanto, em outros, traziam à baila

algo que descreviam como uma lembrança obscura e não conseguiam prosseguir. [...]

eu me tornava insistente - quando lhes asseguravam que eles efetivamente sabiam, que aquilo lhes viria a mente - então, nos primeiros casos, algo de fato lhes ocorria, e nos outros a lembrança avançava mais um pouco. Depois disso eu ficava ainda mais insistente: dizia aos pacientes que se deitassem e fechassem deliberadamente os olhos a fim de se  “concentrarem”—o que tinha pelo menos alguma semelhança com a

hipnose. Verifiquei então que, sem nenhuma hipnose, surgiam novas lembranças que recuavam ainda mais no passado e que provavelmente se relacionavam com nosso tema. Experiências como essas fizeram-me pensar que seria de fato possível trazer à luz, por mera insistência, os grupos patogênicos de representações que, afinal de

contas, por certo estavam presentes” (FREUD, 1996, p. 282-283).

 

Toda essa trajetória permitiu que Freud desenvolvesse e aprimorasse sua técnica psicanalítica. Desde a hipnose, passando pelo método catártico e, depois, por uma prática provisória conhecida como “técnica da pressão​”, na qual Freud pressionava a testa dos pacientes na tentativa de trazer ao consciente os conteúdos inconscientes (método logo abandonado por Freud, por identificar resistências e defesas por parte do paciente).

 

Freud percebeu que o ato mecânico por si só representava uma forma de alívio:

fazia o sintoma se deslocar de lugar (ir para o sistema da fala/escuta). Mas, além disso, havia o mais importante: refletir sobre o simbólico trazido nesta fala, como chave de entrada para o inconsciente.

 

Eis que surge para Freud a ideia da técnica da associação livre​, na qual o indivíduo trazia para a sessão seus conteúdos, sem qualquer restrição ou julgamento e, a partir desses, Freud os investigava, analisava e interpretava, graças à atenção flutuante (conceito empregado pelo autor para a técnica da escuta), na tentativa de relacionar a fala aos conteúdos submersos no inconsciente.

 

 

3. Um olhar à histeria

 

Em virtude do contexto histórico apresentado até aqui, a histeria ​acaba ganhando uma determinada centralidade nos estudos iniciais da psicanálise.

 

Afinal, foram através dessas queixas clínicas que o tratamento desenvolvido por Freud, e influenciados por seus pares, pode seguir evoluindo dentro do arcabouço teórico e prático da psicanálise.

Nesse sentido, cabe-se reservar um espaço importante dentro da formação para o entendimento dessa patologia, sua etiologia,  desdobramentos, formas de intervenção e interpretação, além do tratamento.

 

Pode se dizer que o livro Estudos sobre a histeria (1893-1895) publicando

conjuntamente entre Freud e Breuer, foi à obra fundadora da psicanálise, embora os escritos contidos em A interpretação dos sonhos (1900) sejam considerados, por Freud, como sendo o grande livro de fundação da psicanálise.

 

Assim, em Estudos, os autores discutem e introduzem a ideia sobre a doença

“(...) como sendo originária de uma fonte da qual os pacientes relutam em falar, ou mesmo não conseguem discernir sua origem. Tal origem seria encontrada em um trauma psíquico ocorrido na infância, em que uma representação atrelada a um afeto aflitivo, teria sido isolada do circuito consciente de ideias, sendo o afeto dissociado desta e descarregado no corpo”. (REVISTA CIENTIFICA ELETRÔNICA DE PSICOLOGIA, 2009).

 Essa descarga referida está relacionada à formação do sintoma que, em função de um trauma infantil, apresentaria um correspondente na ordem do simbólico, separando o afeto (o evento traumático do passado) de sua representação (os sintomas e repressões/bloqueios atuais)​.

 

Desse modo, a repressão dos afetos ligados à realização de um desejo provocaria um impedimento que, em virtude da dificuldade de elaboração psíquica em atribuir um sentido à experiência, manifestaria o sintoma no plano somático (corpo), caracterizando o conceito de conversão histérica​.

 

Nesse sentido, apresenta-se a ideia de recalcamento (barreira), que isolaria as representações desvinculadas dos afetos em uma “segunda consciência”, subordinada à consciência normal, o que provocaria, dentro de uma cadeia associativa, a transformação dos afetos em sintomas somáticos, daí a denominação conversão.

 

Sendo assim, a utilização do método catártico como forma de tratamento se

mostrava eficiente, uma vez que a rememoração das representações isoladas do afeto (evento traumático) era realizada, sendo possível a descarga desse afeto, causando alívio e eliminação do sintoma.

 

A esse movimento de descarregamento deu-se o nome de Ab-reação que, 

segundo Laplanche e Pontalis (1996), consistiria em um processo de descarga emocional que, liberando o afeto ligado à lembrança de um trauma, anule seus efeitos patogênicos​. Seria uma forma encontrada pela psique para recalcar (esconder do consciente) a dor constante de rememorar o trauma.

 

 

4. Conceitos fundamentais da psicanálise freudiana

 

“O eu não é mais senhor em sua própria casa”.

(Sigmund Freud)

 

Os escritos de Freud certamente mobilizaram a sociedade de sua época na 

direção da ruptura de paradigmas tão estruturados quanto o próprio contexto histórico vivido na transição entre os séculos XIX e XX. Pelas palavras do próprio autor, seus achados constituiriam a terceira ferida narcísica da humanidade:

 

● 1a Ferida: o centro do universo. ​Através dos estudos de Nicolau Copérnico, pode-se ter o entendimento de que a Terra, e simbolicamente o homem, não é o centro do universo, como se acreditava até então.

 

● 2a Ferida: a evolução das espécies: ​Coube à teoria evolução das espécies de Charles Darwin a responsabilidade pelo intenso duelo ideológico entre

criacionistas e evolucionistas, colocando em questão os dogmas da instituição religiosa cristã.

 

● 3a Ferida: o inconsciente e o indivíduo “dividido”. ​Então, Sigmund Freud com a construção conceitual de inconsciente, sugere que as ações do homem são fortemente influenciadas por uma instância psíquica que foge ao entendimento racional e, que em si, apresentam características primitivas, denominada inconsciente.

 

Nesse sentido, Freud dedica sua vida a desenvolver uma teoria que buscasse compreender os mecanismos que estão por trás do funcionamento da mente. A partir do desenvolvimento de sua técnica e da aplicação clínica, o cientista passa a versar sobre conceitos e ideias que sustentariam sua nova forma de tratar patologias da mente.

 

E, são exatamente esses conceitos fundamentais que apresentaremos na

sequência desse Módulo.

 

 

5. O inconsciente e a primeira estrutura do aparelho psíquico

 

Segundo Laplanche e Pontalis (1996), “se fosse possível concentrar numa só palavra a descoberta freudiana, essa palavra seria incontestavelmente o

inconsciente​”. Não por acaso esses autores tocam na importância desse conceito em como, de fato, a nominação por Freud desse termo revolucionou o entendimento sobre a psique humana.

 

De modo geral o inconsciente é constituído por conteúdos que não estão

presentes no nível consciente (ou seja, no nosso racional e naquilo que sabemos que sabemos)​ e são, por censuras internas, mantidos reprimidos.

 

Trata-se, portanto, de uma estrutura dentro aparelho psíquico que dispõe de leis próprias​, a exemplo da comunicação por imagens mnêmicas (lembranças), dentro de uma rede de simbolização. Ou ainda, sua atemporidade​, ou seja, para o inconsciente não existe passado ou presente, nem tão pouco a dualidade “sim ou não”.

 

O entendimento desse conceito possibilita a Freud à organização do aparelho psíquico em três instâncias psíquicas, conforme descreve em sua primeira tópica​: o sistema Ics/Pcs/Cs.

 

 

● Inconsciente (Ics): Constituído por conteúdos reprimidos e que não têm acesso direto ao sistema Pcs/Cs.

 

● Pré-consciente (Pcs): instância que mantém conteúdos acessíveis ao nível

consciente, ou seja, disponibiliza os conteúdos, mas não pertence à consciência no atual momento. Mantém parte de sua estrutura ligada tanto Ics quando ao Cs.

 

● Consciente (Cs): Instância que se relaciona os estímulos/informações

provenientes do mundo externo e do mundo interno. É responsável pela

percepção, atenção e raciocínio.

 

 

6. Fases de desenvolvimento psicossexual

 

As investigações na prática clínica de Freud, bem como sua estruturação

teórica, abordam, em grande parte, as causas e funcionamentos das neuroses.

 

Segundo Laplanche e Pontalis (1996) a neurose ​pode ser definida como

“afecção (doença) psicogênica em que os sintomas são a expressão simbólica de um conflito psíquico que tem raízes na história infantil do sujeito, e constitui compromissos entre o desejo e a defesa”.

 

Desse modo, por meio de seus estudos, Freud concebe que a maioria dos

desejos reprimidos possuem referências nos conflitos de ordem sexual​,

vivenciados na tenra infância​, na qual as experiências traumáticas configuravam a origem dos sintomas atuais​.

 

Esquema:

Traumas de ordem sexual na infância > Reprimidos (recalque) > Sintomas atuais

 

Esse pensamento gera a ruptura de um paradigma na época, uma vez que as

ideias relacionadas ao “sexual” estariam associadas apenas à reprodução. Freud coloca o desenvolvimento sexual, desde o início da vida, como parte fundamental da evolução psíquica da vida humana. E, a energia associada aos instintos sexuais recebe, por Freud, o nome de libido​.

 

 

Nesse sentido, o entendimento de uma evolução psicossexual a partir do

nascimento e orientado pelo direcionamento da libido passa pela busca do prazer no próprio corpo. Sendo assim, Freud postula fases de desenvolvimento sexual, as quais têm o direcionamento dos instintos sexuais a determinadas áreas do corpo e que promovem prazer (porém, um trauma pode fazer com que o desenvolvimento psíquico “trave” em uma das fases):

 

● Fase oral​: zona erotizada é a boca.

● Fase anal​: zona erotizada é o ânus.

● Fase fálica​: zona erotizada é o órgão genital.

● Período de latência​: interesses sexuais são sublimados, direcionados a outras áreas, culturais, sociais, etc.

● Fase genital​: zona erotizada encontra-se externa ao corpo.

 

É importante colocar que essas fases de desenvolvimento não são lineares e/ou estanques, nem tão pouco acontecem em períodos exatamente como a idade cronológica.

 

Há sim um entendimento de uma evolução de cada fase dentro de uma zona

esperada, contudo longe de ser preconizada ou descrita com total exatidão. Aliás, as consequências provenientes de cada fase podem (e vão) deixar marcas permanentes no funcionamento psíquico do sujeito.

 

 

7. Complexo de Édipo

 

Um processo muito importante e marcante, e que permeia essas fases de

desenvolvimento, é o complexo de Édipo​. Trata-se de um conceito tão complexo quanto à referência ao seu nome.

 

Sua origem tem referência no mito grego de Édipo, o qual, em linhas gerais, é responsável (“sem saber”) por matar seu pai e casar-se com sua mãe​. “Sem saber”:

inconsciente (para Freud, o ato de Édipo representaria uma pulsão de prazer / poder no ego infantil em formação).

 

Essa analogia descreve o comportamento infantil, a nível simbólico, no qual o menino tem a mãe como objeto desejado, e seu pai como seu rival. Desse modo, ele quer ser como o pai e ter sua mãe (revivenciando a fase de proteção uterina ou mesmo a proteção substituta do aleitamento, que, além da sobrevivência nutricional, oferecia-lhe o prazer dos órgãos orais, muito sensíveis na fase inicial do desenvolvimento).

 

Caso o desenvolvimento ocorra de forma saudável, o menino perceberá a

possibilidade da perda do amor do pai e, então, desinvestará a mãe como objeto de desejo, e passará a buscar outro objeto desejado, podendo assim, ingressar no mundo cultural e social: desejar uma carreira, um relacionamento afetivo externo etc.

 

Considerando a figura da menina, as figuras parentais são invertidas, há o

desejo pelo pai e a competição com a mãe, caracterizando o Édipo feminino ou,

segundo o psicanalista Carl Jung, complexo de Electra.

 

 

8. Conceitos fundamentais sobre o funcionamento psíquico

 

Alguns conceitos são fundamentais para que se tenha embasamento e

entendimento dos constructos teóricos de Sigmund Freud. Para que possamos evoluir na compreensão da teoria, é fundamental que algumas questões sejam postas.

 

A existência da pulsão na teoria freudiana pode ser traduzida como um “(...)

representante psíquico das excitações provenientes do interior do corpo” (ZIMERMAN,

1999). Ou seja, há uma tensão somática que busca sua descarga por meio de um

objeto. A pulsão pode ser pensada sobre quatro aspectos:

 

● Fonte​: parte corporal de onde advém o estímulo.

● Magnitude​: quantidade energética (força) da descarga.

● Finalidade​: objetivo e/ou necessidade da busca pela satisfação.

● Objeto​: o qual ou pelo qual a pulsão atinge sua finalidade.

 

Freud ainda caracteriza a pulsão de acordo com o entendimento do aparelho

psíquico, enunciando que é possível uma configuração na qual,

“(...) as pulsões do ego (também denominadas como de “autopreservação”, cujo

protótipo é o da “fome”) e as sexuais (ou de “preservação da espécie”), sendo que,

após sucessivas modificações, mais precisamente a partir do clássico trabalho Além do

princípio do prazer, de 1920, ele estabeleceu de forma definitiva a dualidade de

Pulsões de Vida (ou Eros) e Pulsões de Morte (ou Tânatos), que, em algum grau,

coexistem fundidos entre si”. (ZIMERMAN, 1999, p.77).

 

Outro importante entendimento é que o funcionamento psíquico pode ser

pensado sobre três pontos de vista:

 

● Econômico​: no que se refere à quantidade energética que alimenta os

processos psíquicos.

 

● Tópico​: entendimento de um conjunto de lugares, ou seja, constituído de

sistemas diferenciados quanto à natureza e ao funcionamento (Ics e Cs).

 

● Dinâmico​: justamente por transmitir forças e afetos dentro dos sistemas.

 

Ainda em relação ao funcionamento psíquico, a percepção e/ou a relação com

as experiências do mundo externo, e interno, pode ser altamente perturbadora e

desorganizadora.

 

Em função disso, a psique cria mecanismos para lidar com essas moções

dolorosas, e assim proteger o aparelho psíquico contra as diversas formas de

sofrimento, em prol da sobrevivência​. Criam-se, assim, os mecanismos de

defesas​. Eis alguns dos mecanismos utilizados por subjetividades neuróticas.

 

● Recalcamento: determinados conteúdos (produtos das experiências vividas de modo desorganizador) são reprimidos ao nível inconsciente, ficando limitados pela barreira do recalque.

 

● Formação reativa: na tentativa de proteção do ego em virtude de uma

sinalização de desejo, o indivíduo age de maneira oposta àquilo que deseja,

justamente para não confrontar-se com esse aspecto que, a nível consciente,

pode ser fortemente atacado. Exemplo de alguma pessoa extremamente doce, terna, quando na verdade esconde uma agressividade muito grande, que busca inconscientemente compensar ou ocultar.

 

● Regressão: trata-se do retorno a vivenciar algum ponto regresso que demonstra uma expressão mais primitiva, ou seja, determinada reação que vai além das consequências esperadas. Isso ocorre devido ao fato de que a motivação da regressão é acompanhada de um significado passado.

 

● Projeção: como nome diz, o indivíduo projeta seus conteúdos que não são aceitáveis em si (de modo inconsciente) no mundo externo e, em geral os ataca, sem perceber que aquelas questões são, de fato, suas. Ex.: criticar nos outros comportamentos que o indivíduo quer esquecer que também são seus.

 

● Racionalização: há a construção de um discurso argumentativo puramente racional, na tentativa de lidar com as angústias que assolam o ego. Ou seja, a toda ação que não é passível de explicação, coloca-se uma justificativa com uma tentativa de racionalização muito precisa que valide o comportamento do indivíduo.

 

Como posto, essas defesas são encontradas em sujeitos que possuem um

desenvolvimento egóico mais consistente, considerando-se uma forma de

funcionamento neurótica. Em última instância, sujeitos “saudáveis” lidam bem com as formas de defesa acima, que, quando exageradas, configurariam-se neuroses​.

 

Existem outros mecanismos mais arcaicos e que remetem a um

desenvolvimento mais primitivo, portanto, psicótico​. Como por exemplo, a cisão​, idealização, identificação projetiva, entre outros mecanismos, que implicam em transtornos mais sérios de identidade, via de regra resultados de eventos mais graves da infância e que os mecanismos tradicionais de defesa não conseguiriam dar conta, precisando por vezes o indivíduos se desmembrar em dois para conseguir suportar a dor (como no caso de transtornos de natureza esquizofrênica).

 

 

9. A segunda estrutura (ou tópica) do aparelho psíquico

 

Com o avançar de seus estudos e de sua clínica, Freud propõe uma

reestruturação do aparelho psíquico, implicando em uma dinâmica de funcionamento

diferente daquela proposta em sua primeira tópica (Cs, Pcs, Ics). Apresenta-se,

portanto, os conceitos de id, ego e superego​.

● ID​: instância psíquica mais profunda e vasta, a qual contém reservada a energia psíquica, ou seja, as pulsões que, aqui, se configuram regidas pelo princípio do prazer, em busca da satisfação do desejo, alheios à realidade e à moral.

 

● EGO​: instância psíquica que tem como principal função buscar um equilíbrio entre as descargas de excitações. Orientado pelo princípio da realidade, o ego é um regulador que busca atender os desejos, considerando as condições objetivas da realidade. Portanto, situa-se entre a satisfação do id e as impossibilidades advindas do superego. Além disso, atua como um supervisor dos processos psíquicos, evitando um sofrimento psíquico exacerbado que leve à desorganização, a exemplo das censuras presentes nos sonhos.

 

● SUPEREGO​: instância psíquica que busca a regulação moral condicionada pelas exigências sociais e culturais. Surge com a internalização de conteúdos como limitações, proibições e autoridade, em geral a partir da relação com os pais.

 

 

 

INDICAÇÃO DE LEITURA​:

 

 

1.2 - A cura pela fala. (FOCHESSATO, 2011)​ [material completo, 8 páginas]


 

1.3 - Publicações pré-Psicanalíticas e esboços inéditos (FREUD, 1886-1899)

 

Leia apenas os textos:

- Relatório sobre meus estudos em Paris e Berlim (págs. 12 a 20)

- Histeria (págs. 34 a 51);

- Esboços para a comunicação preliminar de 1893 (págs. 108 a 114).


 


1.4 - Estudos sobre histeria (FREUD, 1893-1895)

Leia apenas o Texto:

- Sobre o mecanismo psíquico dos fenômenos histéricos: comunicação

preliminar (e "uma conferência") (págs. 19 a 29);


 

1.5 - O ego e o id, e outros trabalhos (FREUD, 1923-1925)

Leia apenas o Texto:

- Uma breve descrição da Psicanálise (págs. 111 a 125).


 

1.6 - Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica. (ZIMERMAN,

1999)

Leia apenas o Texto:

- Capítulo 1 (págs. 21 a 29).

 

Vídeos e filmes:

- Freud além da alma (1962)

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